terça-feira, março 21, 2006

Meus oito anos

Casimiro de Abreu

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

h ! dias da minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! .

quarta-feira, março 15, 2006

Após duas semanas...

Estou tirando a poeira e as teias de aranha desse blog.
Não escrevo há muito. Estou passando por uma crise existencial que jamais tomou tal forma e conteúdo, mas essa é a vida.
Não posso reclamar da minha. Tenho tudo que quero, mas acho que pulei alguns degraus e deixei de colocar algus tijolos, e dessa forma as coisas acabaram um tanto inconsistentes.
Enfim (rsrs), as coisas vão se ajeitar, por bem ou por mal.
Se eu não aprendi pelo amor, vou aprender pela dor. Mas vou aprender!

Deixando de lado as divagações, hoje fui à Fnac comprar um livro de gramática e não resisti, comprei mais dois: Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel Garcia Marquez; e Tistu, o Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon.
O primeiro é quase um clássico, comento quando terminar de ler (e vai demorar um pouco). O segundo é um livro infanto-juvenil. Acho que é o quinto ou sexto que compro, e sempre acaba dado ou roubado. É a leitura que sempre recomendo aos que não gostam de ler, por isso não pára nas minhas mãos.

quarta-feira, março 01, 2006

Quem te viu, quem te vê

Chico Buarque/1966

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que apareço...
Muita coisa aconteceu durante esse tempo de ausência, mas muitas delas não valem ser comentadas.
As duas últimas semanas foram muito intensas, em todos os sentidos. Muito trabalho, muita dor-de-cabeça, muitas pessoas diferentes, facul nova...
Acho que não estou conseguindo administrar tudo isso.
Continuo com medo de fazer a coisa errada, qualquer que seja essa coisa.
Continuo me sentindo péssima em relação às pessoas, parece que sempre erro com elas, mas não consigo encontrar onde... Não sei se elas esperam demais de mim, se não sou boa o bastante para elas, mas é nítido que há um padrão nas minhas amizades.
Semana passada ouvi que essas pessoas é que perdem em não me ter por perto. Pode até ser, mas também saio perdendo...
Perdemos todos e não sabemos por quê.